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ABR 21
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Papéis mais expostos ao ciclo global podem ser favorecidos, diz do Opportunity

Para o gestor Marcos Mollica, do lado das contas públicas, as articulações em torno do Orçamento, com capacidade limitada para o Estado cortar despesas, fragilizam o Brasil

Por Adriana Cotias

Num cenário de pouca visibilidade no Brasil, gestores de recursos têm preferido jogar na defesa. Para a pessoa física, ainda veem valor no Tesouro IPCA, uma salvaguarda se a inflação não for domada com o aumento de juros. Em bolsa, a preferência é por empresas com exposição ao ciclo global de crescimento. No câmbio, a recomendação é ter cuidado com posição comprada em dólar, enquanto no front internacional, a bolsa americana é considerada o melhor ativo.

O avanço da vacinação nos Estados Unidos pode surpreender com a abertura mais ampla da economia nas próximas semanas. O ciclo favorável de commodities também reflete a recuperação da atividade global, enquanto o Brasil ainda derrapa, segundo Marcos Mollica, gestor do Opportunity.

“No lado da bolsa, papéis mais expostos ao ciclo global, como Petrobras, Vale e Suzano, podem ser favorecidos. Eu ficaria de olho em exportadoras de uma forma mais ampla. Não esperar virar o mercado que vai na frente, mas quando tiver pelo menos a visibilidade de que o pior ficou para trás”, diz Mollica.

Nas estratégias ligadas a juros, o gestor diz que as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B ou Tesouro IPCA) começam a ter taxas atrativas e “oferecem defesa num cenário inflacionário que pode aparecer se a desorganização [política e econômica] continuar”.

A crise sanitária dramática, com o consequente enfraquecimento do governo e o Congresso adotando um tom mais oportunista a favor do gasto público são ingredientes que vão pesar sobre os ativos nos próximos meses.

“Eu acho ainda que vamos ter uma ascendente de notícias muito ruins, com aumento do número de mortes e de casos [de covid-19]. É difícil ficar animado com Brasil, por enquanto”, prossegue Mollica.

Do lado das contas públicas, as articulações em torno do Orçamento, com capacidade limitada para o Estado cortar despesas, fragilizam ainda mais o país. “A atitude coloca em risco as instituições fiscais, com impactos negativos no mercado. O Brasil não tem credibilidade, apesar do momento excepcional da economia global, possivelmente com o maior crescimento sincronizado que se viu na história, e o país pode perder esse momento, ficar de fora do otimismo global do investidor.”

É por essa razão que o gestor acha que o melhor posicionamento agora é na bolsa americana. E à medida que a vacinação avance ao redor do mundo, outros mercados tendem a performar bem. O Brasil chega atrasado nesta festa.

A contrapartida ao ambiente externo mais benigno fica por conta de uma recuperação que possa ser muito rápida a ponto de as taxas de juros de longo prazo subirem ainda mais nos EUA. Na visão de Mollica, esse cenário favorece um dólar mais forte em comparação a outras moedas de reserva, de países com juros mais baixos, como iene, euro ou franco suíço. Já em relação às divisas emergentes, o gestor diz que é preciso ser mais seletivo, porque nem todos se beneficiam da aceleração do crescimento global.

No nível atual, Mollica acha complicado ficar comprado em dólar contra o real, mas se o Brasil partir para a desorganização total, a tendência é a moeda americana “explodir”, apesar de “já ter muita coisa ruim no preço”.Para a Selic, o gestor estima que o processo de ajuste vá até 6%, 6,5% ao ano, com o BC dosando o passo a partir da avaliação do impacto da pandemia na atividade econômica e na inflação, a fim de evitar contaminação nas expectativas para os índices de preços em prazos mais longos, principalmente em 2022. Ele diz até achar os prefixados atrativos, tem prêmio, mas está muito relacionado à covid-19. Os títulos atrelados à inflação também têm remuneração convidativa, com o benefício de ter a indexação.


Reprodução da matéria publicada no “Valor Investe”, 01/04/2021.