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OUT 21
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Guilherme Affonso Ferreira vê bolsa barata; Dorio Ferman tem dúvidas

Com o Ibovespa aos 110 mil pontos e com relação entre o valor de mercado e o lucro das empresas em um patamar bastante baixo em relação ao observado nos últimos anos, dá para dizer que a bolsa brasileira está barata?

Por Fernando Torres, Valor Investe — São Paulo

Com o Ibovespa aos 110 mil pontos e com relação entre o valor de mercado e o lucro das empresas em um patamar bastante baixo em relação ao observado nos últimos anos, dá para dizer que a bolsa brasileira está barata? Dois experientes investidores brasileiros tem visão distinta.

Guilherme Affonso Ferreira, sócio da Teorema Capital, responde afirmativamente. “Sim, é um momento bom para comprar ações”, disse ele durante sua participação no evento BTG Invest Talks, organizado pelo BTG Pactual Digital e transmitido na noite desta quarta-feira. Segundo ele, isso não significa que se deva comprar qualquer ação. Mas a bolsa como um todo estaria subavaliada o que ele atribui à percepção de risco político.

Dorio Ferman, sócio da gestora do Opportunity, que também participou do evento, tem uma visão mais cautelosa. Para ele, o índice de preço/lucro do Ibovespa como um todo está baixo, mas é preciso considerar que o índice tem um peso grande de empresas de commodities e grandes bancos, que talvez mereçam as baixas avaliações. “Os bancos estão sofrendo ataque da concorrência. E as empresas de commodity têm um múltiplo historicamente baixo pela dependência do preço dos produtos (que elas não controlam), que pode cair muito numa recessão”, afirma o gestor. “Não sei se o Ibovespa (como um todo) está barato. Tem que pensar muito onde investir.”

Para Ferreira, o excesso de dinheiro no mundo vem provocando uma inflação no preço dos ativos, incluindo ações, e fazendo com que os investidores aceitem múltiplos mais altos no mercado internacional. O Brasil não estaria surfando essa onda, na visão dele, por causa dos nossos problemas internos, como o risco político, mas uma hora esse efeito aparecerá no preço das ações. Somado a isso, ele menciona o fato de as empresas da bolsa serem grandes e líderes de mercado, e diz que elas ganharam, durante a pandemia, parte da clientela que era, até então, de concorrentes de pequeno e médio porte.

Ferman considera que, embora deva se esperar um ganho de produtividade por causa da transformação digital acelerada pela pandemia, não está claro quais são as empresas que fornecem os serviços que vão se beneficiar disso. Citando o mercado de telefonia, ele disse que foram os consumidores, e não as companhias do setor, que mais ganharam com o desenvolvimento desse mercado. “O e-commerce vai crescer muito. Mas será que são as empresas que vão ganhar?”, questiona. Para ele, quase tudo já está no preço das ações e é preciso olhar “no detalhe” para extrair um ganho acima da média do mercado.

Ainda como recomendação aos investidores, Ferman sugere que eles estudem muito e movimentem pouco a carteira. “Tem que segurar os instintos.”


Reprodução da matéria publicada no “Valor Investe”, 06/10/2021.