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ABR 21
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Opção rentável para quem suporta correr riscos altos

Operações podem contratar hedge em moedas, ouro e índices

Opção rentável para quem suporta correr riscos altos
Por Mônica Magnavita

Os fundos long biased vêm ganhando espaço nos últimos anos como opção rentável à diversificação em renda variável, sobretudo para investidores mais arrojados. Com características de multimercado, possuem volatilidade alta, risco idem, mas garantem bons retornos quando seus gestores acertam nas decisões.

Operam com posições compradas (long) e vendidas (short) e ainda podem contratar hedges em moedas, ouro e índices. Entre os dez primeiros que se destacaram no “Guia Valor de Fundos de Investimento”, dois deles, das gestoras Itaverá e Truxt, foram rápidos em assumir posições e souberam usar bem a flexibilidade de alocação dos fundos, garantindo retornos de vulto em 2020, ano de crise mundial sem precedentes.

O Long Biased FIC FIA da Itaverá, que completa sete anos em 2021, atua mais ativamente por meio de duas carteiras, a gestão long only e a de eventos, mas também conta com a gestão short. A primeira, é composta por ações de cerca de 15 empresas, com posição variando entre 60% e 100%, com base no tamanho das oportunidades, e que girou em torno de 82% no ano passado. A outra, a de eventos, consiste em estratégia que manter posições que antecipam possíveis mudanças estruturais em grupos econômicos, como reestruturação, ainda não precificadas pelo mercado. “Ganhamos quando essas operações se concretizam e chegam à capa do Valor ”, diz Rodrigo Magela, sócio gestor da Itaverá.

Em dezembro de 2020, a exposição bruta do book de eventos atingiu 42,1%, tendo saído de 17% em novembro, impulsionada pela operação com ações das Lojas Americanas. O fundo estava comprado em Lojas Americanas ON e vendido PN, papel com desconto razoável. Também tinha ações da B2W, na qual as Americanas detinham 62% de participação. A reestruturação se confirmou e as ON se valorizaram. O anúncio da incorporação da B2W pelas Lojas Americanas veio em fevereiro de 2021, gerando bons retornos para o fundo. “Essa foi uma de nossas boas apostas”, afirma.

As operações da carteira de eventos, entretanto, embora bem rentáveis, demandam tempo entre a data da posição em carteira até o anúncio da operação, quando efetivamente ocorre o ganho. “Nossa carteira do long only bate o Ibovespa em larga margem, mas o delta da performance vem da posição em eventos”, diz Magela. O fundo, com volatilidade de 30%, está aberto, tem patrimônio de R$ 200 milhões e é voltado para investidor qualificado. Os setores mais visados são os de comércio, varejo e financeiro, incluindo seguros. Entre os grandes acertos em long only estão Mercado Livre (comprada em 2018) e Itaúsa. Em termos de eventos, também foram destaques: Jereissaiti Participações / Iguatemi, Gerdau ON/Gerdau PN e Bradespar / Vale e a reestruturação societária da Cosan, em 2020.

Na Truxt, gestora criada em 2017 e com R$ 23 bilhões de patrimônio, seu Long Biased FIC FIM combina posição da carteira em ações com operações de hedges. O produto viu seu risco crescer tanto em função do comportamento do mercado, quanto de estratégias adotadas em sua gestão. Deu certo. “O fundo opera bastante e combina escolha de ações com hedges nos mais diversos ativos”, relata José Tovar, CEO da Truxt. A rentabilidade em 2020 chegou a 44%, a maior obtida em um ano desde a criação do fundo, em 2014. O êxito é atribuído a um conjunto de ações que demandaram rapidez na troca de posições e boas apostas em hedges.

Em 2020, os gestores reduziram rapidamente posições consideradas vulneráveis com a chegada da pandemia ao país, como aquelas em shopping centers e aviação. Paralelamente, ampliaram hedges, comprando dólar, ouro e tomaram juros no Brasil. Além disso, quando os Estados Unidos injetaram mais liquidez na economia, aumentaram posições compradas em setores ligados à venda por internet, no Brasil; tecnologia, nos EUA; e financeiro, em função do aumento de investidores, dado a baixa taxa de juros. A agilidade na troca de posições, a elevação de risco na posição net comprada, aliadas ao aumento das defesas, com a compra de dólar, ouro e juros no Brasil, levaram a um dos melhores resultados obtidos pelo fundo.

Em bolsa, os destaques foram ações de Mercado Livre e Magazine Luiza, no Brasil, e de Google, Microsoft, Facebook, nos EUA. O fundo exibe volatilidade alta, de 20%, mas tem instrumentos de defesa. “Se a carteira de long only cai, a de hegde dará algum dinheiro, defendendo o que tínhamos posicionado”, diz Tovar.


Reprodução da matéria publicada no “Valor Econômico”, 15/04/2021.